Tuesday, May 09, 2006

 



Façanhas portuguesas no Oriente, Aquilino dixit

Acabei o calhamaço.
Aquilino Ribeiro, que logo nas Palavras Preliminares adverte para não lhe porem limitações à liberdade da pena (1947! Estávamos em pleno consulado salazarista) trata a gente lusa, que andou por aquelas longínquas paragens, sem a menor contemplação.
O jovem "vizo-rei" D.Constantino de Bragança, cuja biografia ocupa umas escassas páginas no total da obra, é apenas o pretexto para o pano de fundo traçado pelo Mestre.
Aquilino, como ele próprio refere, procura fazer nesta obra, "o estudo sereno e despreconcebido dos nossos antepassados, homens de instinto e de paixão, soberbos e inquietos, vítimas na maior parte dos casos da sua completa carência de bom senso".
Referindo, por exemplo, a nossa estadia em Ceilão, escreve:

" A maneira como a administraram (a ilha) foi de tal sorte que dir-se-ia não prosseguirem noutro objectivo que não fosse o de destruír as excelências de que a terra era pródiga. Em vez de atarem boas e amicais relações com os indígenas e grangearem o seu concurso para trabalhar pelo progresso comum, trataram-nos com a mais requintada crueldade e enxovalho. Não sòmente fizeram mão baixa de tudo o que era deles que representava um valor, embora objecto de estimação, como cobriram de vilipêndio seus usos e costumes. Eles por nada deste mundo se resignavam a renegar as suas convicções religiosas; os portugueses achincalharam-lhes crenças e doutrinas e sujeitaram seus praticantes a toda a casta de barbaridades. Enfim, o fanatismo religioso dos conquistadores, sobrepôs-se inteiramente aos seus próprios interesses. Foi com extrema repulsa que os cingaleses viram os deuses estrangeiros instalar-se em seu território, sedentos, dir-se-ia, de sangue humano. E preferiram abandonar-lhes a costa, refugiando-se com os ídolos grotescos nas serranias do interior. A estes factos se deve atribuír particularmente o ódio de que estavam animados os habitantes contra o ocupante e o entusiamo com que acolheram os holandeses."

Para lá de um detalhado painel histórico, Aquilino traça, em certos momentos, páginas de uma prosa admirável, telúrica, que não me cansei de reler.

Bom! Foi muito interessante este reencontro com um "velho amigo" dos meus 16/17 anos, altura em que devorei as Lapides Partidas, a Via Sinuosa, a Maria Benigna, sempre acompanhado do indispensável "Torrinha". Aliás tive agora de continuar a socorrer-me do dicionário para encontrar a "tradução" de muitas palavras e expressões com que topei. Aqui vai uma lista resumida de algumas delas: alpondra, barbiponente, barnagais, boleto, cavidoso, chatinar, chelpa, choldra-boldra, cincar, comborço, condesilha, corrume, cróias, eido, encalamistrado, escabichador, escarmentar, escamugir-se, espora-fita, facataz, frascário, lobreguejar, lorga, maninelo, muladar, nonada, pantafaçuda, planturosa, prolfaças, referta, rodamonte, rosalgar, tanadaria, testilhas, trancafio, zarguncho, "pulou-lhe à suã", "à estardiota", etc.etc..

E pronto, meu "velho". Até à próxima (ou ao próximo, que poderá ser "O romance de Camilo").

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