Monday, May 22, 2006

 
A tasca do Isaías

Há uma semana e pouco fui de longada com a Ana até Estremoz.

Não sei por que carga de água mas tenho uma afinidade especial com esta terra.
Há um bom par de anos - mais de trinta - e a solicitação de um amigo cuja mulher tinha problemas de herança naquela região, estive lá uns dois ou três dias a auditar as contas da empresa patriarcal, motivo da discórdia, gerida por um cunhado do solicitante.
Havia sérias dúvidas quanto aos bons critérios da gestão e foi nesse sentido que assentei as minhas baterias. Findo o trabalho e, antes de regressar a Lisboa, fui festejar com o técnico que me acompanhou, a casa de um familiar deste, os bons resultados da nossa diligência. Contra os meus hábitos, meti-me numa valentíssima comezaina de ameijoas à Bulhão Pato, terrivelmente picantes e saborosas. Na tarde desse Domingo regressei a Lisboa replecto, como diria o Eça.
Tal foi a moenga, que na segunda-feira comecei a ficar muito indisposto e no dia imediato estava a ser operado a uma apendicite aguda!.
Mas, voltando a Estremoz: Gosto muito daquela terra, pela sua luminosidade, pela disposição das casas, pela austeridade dos monumentos e, por que não, até pela memória de alguns dos seus filhos - nomeadamente o Marechal Spínola e o tenor Tomás Alcaide (com o Spínola estive na Guiné durante quinze meses; quanto ao Tomás Alcaide, quando passei pela Emissora Nacional, disseram-me ter sido um discreto funcionário do Arquivo Musical, como tábua de sobrevivência; tivesse esse homem, dono de uma voz maravilhosa, nascido noutro contexto e, sem dúvida, teria hoje um renome universal).
Por volta da uma da tarde, metêmo-nos por uma ruazita estreita que vai dar ao santuário gastronómico estremocence: A Adega do Isaías.
É um lugar muito simples, com mesas e bancos corridos, encostados a uma fileira de talhas -grandes recipientes de barro preto, para a guarda do vinho, cuja altura, do pescoço ao fundo, andará à volta dos dois metros.
O Isaías não estava, como habitualmente, num dos seus dois postos: ou à entrada, no grelhador, ou abancado dentro da adega: de qualquer modo o serviço foi razoável, se bem que um tanto demorado.
No banco corrido, ao nosso lado estava um casal de holandeses que, de "roulotte" andam há sete meses fora de casa. Bons comedores e melhores bebedores não se coibiam de manifestar com sonoros roncos de satisfação o prazer que lhes dava ao palato o ensopado de borrego e as plumas de porco preto. Fácil conversação na nossa língua comum: o inglês.
Por volta das quatro da tarde regresso a penates.

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