Friday, July 20, 2007
Aquela fabulosa adolescente
Visitei, pela primeira vez, a casa de Anne Frank há mais de 30 anos. Tinha lido o "Diário" em tenra mocidade e, logo na altura, fiquei impressionado pela força daquela rapariguinha.
Na segunda visita, uns anos depois, vi uma senhora, de alguma idade, encostada a uma das paredes, a chorar, em silêncio. Comentei: É impressionante como isto pôde acontecer!
Ao que ela sussurrou: Desta, ao menos, soube-se o destino. Mas houve muitos de quem nunca tivemos notícias...
Desta vez, antes de fazer uma nova incursão ao nº 263 da Prinsengracht, resolvi reler o Diário, agora na sua versão definitiva.
A leitura, pungente, só acabou em Lisboa, pelo que a revisita ficará para nova ocasião.
Se a Morte é sempre uma coisa incompreensível, nas circunstâncias de Anne foi uma verdadeira aberração. Ficamos com a certeza de que esta vida mereceria ter sido vivida na sua plenitude.
Escrevia ela, em 3 de Maio de 1944 (pag. 368 e 369, da versão definitiva, Ed. Livros do Brasil, Lx 2006):
"Sou ainda nova e tenho muitas qualidades escondidas; sou jovem e estou a viver no meio dos acontecimentos e não posso passar o dia inteiro a queixar-me por não me divertir! Sou abençoada com muitas coisas: felicidade, bom humor e força. Todos os dias me sinto a amadurecer, sinto a libertação a aproximar-se, sinto a beleza da natureza e a bondade das pessoas que me rodeiam. Todos os dias penso em como é fascinante e divertida esta aventura! Com tudo isto por que hei-de desesperar?".
Morreria, de tifo, em Bergen-Belsen, um campo de concentração perto de Hannover (Alemanha) nos princípios de Março de 1945, um mês antes de o campo ser libertado pelas tropas britânicas...